Portugueses recorrem quase duas vezes e meia mais às urgências do que média da OCDE

Muitos dos utentes do Serviço Nacional de Saúde chegam aos serviços de urgência sem estar referenciados e revelam não ter qualquer problema grave de saúde. Mas são também os que mais reclamam pelo tempo de espera.

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Foto: Nuno Patrício - RTP

Os dados estão num estudo sobre o acesso aos serviços de urgência do SNS divulgado esta terça-feira pela Entidade Reguladora da Saúde.

Entre 2022 e os primeiros seis meses de 2024, houve 15.952.048 admissões às urgências hospitalares. Nível que foi "relativamente estável" nos cinco semestres em apreciação neste trabalho."Quando considerado o rácio de episódios de urgência por 100 habitantes, os valores observados em Portugal continental situam-se bastante acima da média da OCDE", aponta a ERS.


Por cada 100 portugueses, o Serviço Nacional de Saúde registou, em 2023, 64 episódios de urgência - mais do dobro do que se registou na média dos 38 países compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

Em quase 70 por cento dos casos, os utentes deslocam-se às urgências por iniciativa própria, ou seja, sem passar pela triagem de um médico dos cuidados primários ou da linha SNS24.

Depois das triagens nas urgências hospitalares, as pulseiras brancas ficaram acima dos dois por cento, o valor máximo admissível, verificando-se que, numa percentagem elevada, estes casos não urgentes acabaram por resultar em internamento do doente.

O estudo conclui que, na maioria daquelas situações, se trata de um expediente para obter uma admissão hospitalar.

Virtualmente metade das pessoas que recorreram às urgências representam casos pouco urgentes ou mesmo não urgentes, com quase 82 por cento dos doentes que chegam por iniciativa própria aos serviços a serem triados com pulseira branca ou azul.
Excesso de procura decisivo nos tempos de espera

Em 2023, segundo o estudo, menos de metade dos doentes mais graves foram atendidos nos dez minutos seguintes à triagem, como preconizam as regras para um doente com pulseira laranja.

Para as pulseiras amarelas a taxa de cumprimento é de 66,4 por cento.O Serviço Nacional de Saúde tem abertas 39 urgências básicas, 31 médico-cirúrgicas e 13 urgências polivalentes.

Os tempos de espera são, por outro lado, cumpridos de melhor forma nos casos de menor gravidade. Uma realidade que se mantém estável desde 2022.

O tempo de espera para ser visto por um médico nas urgências foi o que mais motivou queixas dos utentes, sobretudo dos triados com situações menos urgentes.

Cinquenta e seis mil e 13 pessoas apresentaram reclamações formais pelo atendimento de que foram alvo num serviço de urgência do SNS
, quase metade pelo tempo que tiveram de esperar pelo atendimento clínico não programado.

O volume de reclamações é mais pronunciado no Algarve, na Grande Lisboa e na Península de Setúbal.
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